domingo, 21 de agosto de 2011

A valsa do galho

Era bonito, oblíquo
Quase desimportava


Doía cabeças
Caía canelas
Despenteava dondocas


Que amor sempre existiu
Bruto, desconfiado
Beirando calçada
Com olhos de esguelha


Era saúde, era altura
Quase ninguém bizoiava
Era choro recatado


Soava o apito de trânsito
Hora certa toda justa
Pro menino dançarino


Passo linha
Passa linha
Passa palavra
Passo de letra


Nas nuances singulares
Simbolismo analfabeto
O menino cabisbaixo
Passeava nos versinhos


Era valsa, era verdade
Pouco antes da esquina
Na avenida sem sinal


Todo dia em hora certa
O menino desatento
Caminhava lendo poemas


Hora de sinal errado
Hora desonrar demora
Hora fora de semáforo


Dançarino era o galho
Tão bonito tão oblíquo
Segurava menino, lia dois versos
Menino parava e olhava a rua


Ontem cortaram o galho
A saúde altura valsa
A verdade salvação


Ontem cortaram o galho
(Pobre galho)
E o tronco murchou
E o menino dançarino
Atropelado morreu
A dança voada nos ventos
O poema jogado no meio da rua.

2 comentários:

  1. Desejos Poéticos do Amor30 de agosto de 2011 às 21:14

    Transbordo em um mar de emoção, minha vista embaça, enquanto o eu-menino me vejo atravessando a rua.
    Sinto falta.
    O vazio do poema não-escrito, jogado no chão da vida. Só a ti, só você que escreve sobre minha dor, sem saber o que sou, quem sou.
    Obrigado.

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