sábado, 9 de abril de 2011

Quase Sampa

O canto do pássaro
O vento levou
Foi voar lá no sertão
E na cidade de meudeus
Sobrou só nota musical

Cidade metrópole de pombos
Sem cais de poesia
Sem tom, sem hora ou compasso
Cidade de círculos tortos
Metrópole sem clave de sol

Metrópole de portas fechadas
Bolsas fechadas
Bocas fechadas
Tempos cerrados

É aqui entre pedágios
Entre o massacre da roda no alfalto
Entre o salto trincado e o brinco perdido
É aqui que pratico minha saúde

Aqui não no cotovelo da cotovia
Mas na goela aberta da avenida
Que meu céu da boca ecoa
O tracejado vermelho da bandeira entre vácuos

Aqui vivo de quase amores
Nas janelas de ônibus
Nas vielas sem flores
Na baldeação de contos

Amo em amarelos de semáforo
No quase do vermelho ao verde
Que é só detalhe

Quase amo na linha do trem
Em calçada apertada
Em raro vintém
Em garoa que estraga programas
E prossegue a luneta dos poréns

Amo num tamanco de átimo
Num tanto instantâneo
Ou amo aos pouquinhos
Sem dramas e piedades
Só cílios e arcada dentária

Amo em quase ladeiras
Tanto amor na falta de verde
Das quase madeiras
Brincadeiras sujeiras focinheiras
Tanta mosca varejeira

Vivo de quase amores
No estômago paulista
Porque todo olho é bonito
E porque arranjo companheiros

Vivo de quase amores
Porque é tudo quase grande
É amor em crase mútua
Quase amo em tanto amor
Como o quase-quase pranto
Da árvore que lacrimeja
Mas não deixa cair frutos

Quase amo em bastantes
Porque se quase desamo
Num piscar de olho e poste
Nunca mais paro de amar
É quase sampa
É Sampamor!

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