quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pablo

San Telmo, em Buenos Aires, pode ter em suas calles de domingos os mais dramáticos tangos em novelas de marionete. Os italianos que parlem, parlem, parlem, mesmo que a seus modos cheguem a reger orquestras. O leque negro no olhar indígena ou até as mil asas do beija-flor, não importa. Difícil haver - e se ver - mais graça que en Pablo, que eu diria até Pablito. Existem muitos tipos de garçom no mundo, dos mal-humorados aos mentirosos de otimismo, passando pelos destrambelhados, desesngonçados, desesncontrados, desesnganados, também os galantes e os bons de papo. Por Nova Iorque, São Paulo, Barcelona, Sidney e Verona. Mas é em Olmué, rente à praça principal, que Pablo recita suas gastronomias. Seja atum vietnamita, seja batata saltada ou agridoce salada, Pablo se empolga exibindo as novidades que se emprega a servir. Arregala os olhos feito girassol e gesticula com as mãos de grossas unhas. "Cual és la diferencia entre el atum de Vietnã o de Japón, por ejemplo?" No que ele incrementava: "Bien, yo no sé al certo, pero hay una diferencia, és un plato maravilloso!" E, de pé na cabeceira da mesa, em espanhol chileno tão gentil, recomeçam as histórias dos cardápios, dos companheiros indígenas mapuches e das músicas locais. Os olhos não miram tão longe, pois os amigos estão a poucos centímetros, ao sabor de peixe e ensalada. Talvez sua vista intente, inconsciente, a diferencia latino-americana, increíble como o atum do Vietnã. Talvez, talvez, quem vai saber?

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