quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tempos pra cá

"Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois." (G.R.)


E aqui eu me repartiria, se por acaso aqui estivesse há bem uns cem anos. Aqui, nesse trilho de veredas, se eu sem querer enfrentasse o trem como o mirradinho Pingolim, a história de Sorôco e mineiros tantos seria outra, com inovações inesperadas nos relógios velhos: por algum acaso o trem que parou ao passar-me sobre o corpo (e também sobre formigas) não atrasara o destino ferroviário de loucas familiares e do próprio cabra de barbas grandes? 

Estou aqui de novo, agora em objeto eu, agora em badalar de tempo meu, agora em século vinte e um, agora sem Sorôco, sem outras loucas dantes, sem lenços molhados ou burburinho de empobrecido adeus. No meio do trilho estamos eu, os restos guardados com carinho patrimonial,  as formigas e alguns cacos de vidro - pois bebedeira sertaneja é também pura contação de causo. Pois dois pensantes minutos, num aqui maior que centenários, aqui vivi, aqui morri, aqui ecoei junto à doída cantiga das loucas.

(04/09/2010, Cordisburgo, Minas Gerais)

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