domingo, 29 de agosto de 2010

Chatice vespertina (Terça-feira III)


Agora o verde já não é mais aquele verde. As folhas continuam vivas, isso eu sei, mas não me minta dizendo que a cor é a mesma: tenho acompanhado o cair leviano da sombra. Pois eu estou aqui de cotovelos à janela central. Qualquer falha na coragem rígida da trinca que mantém o vidro levantado trazendo-me brisa, e essa camada-vitral transparente de existir opaco me mata, cabeça para um lado e corpo para o outro, frações rolando pela rua ou por meu quarto de tolices desmundadas. Fechar a janela pode ser ou proteção ou covardia. Mas ah, paremos com isso, não me faça pensar em egocêntricas tragédias, ridículo maior não há! Além disso, a tarde está bonita! Emolduro em minhas palavras o eco dos pássaros camuflados. Cadê os pássaros desta bela melodia orquestral? Pi-pi-pi!, passarinhos, venham cá!, tentem-me ao mundo e escolham meu vestir-se como fazem à Bela Adormecida! Olho o céu e só vejo o avião em réptil lerdeza, em translucidez poluente de aparente inocência.

Minhas costas agora doem fininho, estou em posição de binóculo há tempos já! Mas aqui valsa uma brisa tão filhote... delicioso seria despir-me agora (creio eu, pois acabei por não testar). A cabeça me pende ao lado, alguns milímetro no máximo, não me duvide!, se sentir necessidade cate uma fita métrica e meça você mesmo, oras! Um piscar de olhos um pouco mais prolongado cairia bem, não se preocupe, não vou cair-me! Cochilar é dormir em alerta, lembre! Se eu vestisse os olhos com óculos escuros, ninguém nem perceberia. 

Cadê minha sombra, você a viu? pois ela estava bem aqui ao meu lado, emagrecendo minha silhueta, e agora...? Ah, sombra, aí está, mudou-se de lado comigo, só isso, engordando minhas formas já meio tortas. Por isso o verde fotossintetizante mudou, jaboticabas saltando de seu caule cor de cabelos. Na copa ainda sobra um raio de sol, ali as folhas se distinguem pelos amarelos que as invadem, amarelos patriotas momentâneos de vida e não doença. Ah, isso parece tom de cartão-postal. Nos extratos mais de baixo, o verde se crepuscula, a sombra está invadindo os arbustos mas a beleza ainda está, melancolizando em rondas junto de bem-te-vis e pardais. Janela é coisa bonita porque abre a sombra, parte com ela. Atravessando a janela partem jovens enamorados de épocas distantes e distintas. Janela é parte da casa, é o quadrado do cubo. E, ai!, eu bem que me avisei, ai!, que impropério de ações!: e agora, nesta calma estática de mundo quadro, recorte urbano, é a janela de trava hipócrita que me parte e decepa, corpos aos dois lados: agora sim minha cabeça deve estar rolando (ainda bem, convenhamos, isso já se tornava tedioso, esse em cima do muro, despejada à janela e ao ócio, de medroso olhar o mundo). As cores se transformam pela luz perspectiva, ah maravilha!, assim como um corpo navega a vida. Pois a folha que cai não é falha, é precisão da estação.

(ultimamente tenho vomitado textos-lixo. perdão.)

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